Turandot

Ato I

Ato I | Ato II | Ato III

                         Turandot
                             
                      Ópera em 3 Atos
                             
                 Música de GIACOMO PUCCINI
                             
         Libreto de Giuseppe Adami e Renato Simoni
                             
último dueto e finale da ópera concluídos por Franco Alfano
                             
         Baseado no drama homônimo de Carlo Gozzi
                             
    Estreada no La Scala, Milão, em 25 de abril de 1926



Elenco
Princesa Turandot ........................... soprano
Liù, jovem escrava .......................... soprano
Timur, o Rei Tártaro destronado ............. baixo
Calaf, seu filho (O Príncipe Desconhecido) .. tenor
Imperador Altoum ............................ tenor
Ping, o Grande Chanceler .................... barítono
Pang, o Provedor Geral ...................... tenor
Pong, o Cozinheiro Chefe .................... tenor
Um Mandarim ................................. baixo
Príncipe da Pérsia .......................... barítono
Aias de Turandot ............................ sopranos





ATO I

As Muralhas da Cidade Imperial

Maciços bastiões se estendem por quase todo o comprimento
do palco. Um enorme gongo de bronze pende de um pórtico
esculpido. Estacas encimadas pelas cabeças decepadas de
homens foram erguidas nos bastiões. É crepúsculo. Uma
pitoresca multidão chinesa enche a cena. Um MANDARIM lê
uma proclamação.


MANDARIM
Povo de Pequim!
A lei é esta: Turandot a Pura
Esposa será de quem,
de sangue real,
Decifrar os três enigmas
que ela proporá.
Mas quem enfrenta a prova
E vencido fique
Entregará ao machado a soberba
cabeça!

A MULTIDÃO
Ah! Ah!

MANDARIM
O Príncipe da Pérsia
Adversa teve a sorte:
Ao surgir da lua,
Pela mão do carrasco morrerá!

A MULTIDÃO
Morrerá! Sim, morrerá!
Nós queremos o verdugo!
Rápido, rápido! Morrerá! Morrerá!
Ao suplício! Morrerá! Morrerá!
Rápido, rápido, morrerá!
Se não apareces, nós te despertaremos!
Pu-Tin-Pao, Pu-Tin-Pao!
Ao Palácio! Ao Palácio! Ao Palácio!

GUARDAS
Afastem-se, cães! Afastem-se, cães!

A MULTIDÃO
Oh! cruéis!...
...Pelos céus, parem!
(Algumas das mulheres)
Nossa mãe!

GUARDAS
Afastem-se, cães!

A MULTIDÃO
(Mulheres)
Ai! Minhas crianças!
Cruéis! Oh, minha nossa!
Oh, minha nossa!
(Homens)
Cruéis! Pelos céus, parem!
Parem! Parem!

GUARDAS
Afastem-se, cães!

LIÙ
O meu velho caiu!

A MULTIDÃO
Cruéis! Sejam humanos!
Pelos céus, parem! Cruéis!
Não nos façam mal!

GUARDAS
Afastem-se, cães!

LIÙ
Quem me ajuda,
Quem me ajuda a levantá-lo?
O meu velho está caído...
Piedade! Piedade!

CALAF
Pai! Meu pai!

GUARDAS
Afastem-se!

CALAF
Ó pai, sim, te reencontro!

A MULTIDÃO
Cruéis!

CALAF
Olha-me! Não é sonho!

A MULTIDÃO
Porque nos bateis? Pobre de nós! Piedade!

LIÙ
Meu senhor!

CALAF
Pai! Escuta-me! Pai! Sou eu!
E abençoada seja...E abençoada seja
A dor por esta alegria que nos dá
Um Deus piedoso!

TIMUR
Ó meu filho! Tu! Vivo!

CALAF
Silêncio! Quem usurpou a tua corôa
Me procura e te persegue.
Não tem asilo para nós, pai, no mundo!

TIMUR
Tenho te procurado, meu filho,
E te acreditei morto!

CALAF
Tenho te chorado, pai...
E beijo esta mão santa.

TIMUR
Ó filho reencontrado!

A MULTIDÃO
Eis os ajudantes do carrasco.
Morra! Morra! Morra! Morra!

TIMUR
Perdida a batalha, velho Rei sem reino
e fugitivo. Uma voz
Ouvi que me dizia:
"Vem comigo, serei tua guia..."
Era Liù.

CALAF
Seja abençoada!

TIMUR
E eu caído cansado,
Ela me enxugava o pranto,
E mendigava para mim.

CALAF
Liù...quem és?
LIÙ
Nada sou...uma escrava,
Meu senhor...

CALAF
E porque tanta angústia tem dividido?

LIÙ
Porque um dia...
No palácio me sorriu.
A MULTIDAO
Gira a pedra, gira, gira!
Gira, gira, gira!

AJUDANTES DO CARRASCO
Unte, afie, que a lâmina
Brilhe, lampeje fogo e sangue.
O trabalho nunca diminui,
Nunca diminui...

A MULTIDÃO
...nunca diminui...

AJUDANTES DO CARRASCO
...onde reina Turandot.


A MULTIDÃO
...onde reina Turandot.

AJUDANTES DO CARRASCO
Unte! Afie!
Fogo e sangue!

HOMENS
Fogo e sangue!

MULHERES
Doces amantes, avante, avante!

HOMENS
Ó doces amantes, avante, avante!

MULHERES
Doces amantes...
...avante, avante!

AJUDANTES DO CARRASCO
Com os ganchos e com os cutelos...

HOMENS
Nós estamos prontos a recamar a vossa pele!

A MULTIDÃO
Doces amantes, avante, avante!

AJUDANTES DO CARRASCO
...estamos prontos a recamar!

A MULTIDÃO
Quem aquele gongo percutir
A verá aparecer...

AJUDANTES DO CARRASCO E HOMENS
...a verá aparecer
Branca como a geada...

TODOS
Fria como a espada é a bela Turandot!

MULHERES
Doces amantes,
avante, avante!

AJUDANTES DO CARRASCO
Avante, avante!

A MULTIDÃO
Quando se afana o gongo
alegra-se o carrasco!
Em vão o amor se não se tem sorte.

AJUDANTES DO CARRASCO
Quando se afana o gongo alegra-se
o carrasco...Unte, afie!

A MULTIDÃO
(Mulheres)
Os enigmas são três, a morte é uma!
A morte é uma! Unte, afie!
(Homens)
Gira, gira! Unte, afie!

AJUDANTES DO CARRASCO
Quando se afana, etc.

A MULTIDÃO
Os enigmas, etc.

AJUDANTES DO CARRASCO
Doces amantes, etc.

A MULTIDÃO
Os enigmas, etc.
Etc, etc

TODOS
...onde reina Turandot!...Ah!

A MULTIDÃO
(Mulheres)
Porque demora a lua?
(Homens)
Face pálida!
(Mulheres)
Mostra-te no céu!
(Homens)
Rápido, venha!
(Mulheres)
Desponte!
(Homens)
Ó cabeça cortada!
Ó palidêz!
Venha!
(Mulheres)
Desponte!
(Homens)
Mostra-te no céu!
(Mulheres)
Ó cabeça cortada! Ó exangue
(Homens)
Ó exangue, Ó palidez! Ó taciturna!
(Mulheres)
Ó amante extremada da morte!
(Homens)
Ó taciturna, mostra-te no céu!
(Mulheres)
Como esperam... o teu fúnebre clarão os cemitérios!
Ó exangue! Ó palidêz!
(Homens)
Ó cabeça cortada!
(Mulheres)
Eis lá distante um pequeno clarão!
Venha, rápido, desponte!
(Homens)
Ó cabeça cortada, desponte!
(Mulheres)
Venha!
(Homens)
Ó cabeça cortada, venha!
(Mulheres)
Mostra-te Ó face pálida!
(Homens)
Ó face pálida!
(Mulheres)
Ó exangue, pálida!
(Homens)
Venha, Ó amante descorada dos mortos!
(Mulheres)
Ó amante... descorada dos mortos!
(Homens)
Venha, venha, desponte!

TODOS
Eis distante um pequeno clarão...
Espalha-se no céu...
A sua luz desbotada!
Pu-Tin-Pao! A lua surgiu!
Pun-Tin-Pao, etc.

MENINOS
Lá sobre os montes do oriente
A cegonha cantou.
Mas o abril não refloria,
Mas a neve não degelou.
Do deserto ao mar não ouves tu mil vozes a suspirar:
"Princesa, desça a mim! Tudo florescerá, tudo
resplandecerá! Ah!"

(Os ajudantes do carrasco, Mandarins e Dignatários
avançam seguidos pelo Príncipe da Pérsia. É um homem
bonito, mais parece um menino, e está pálido, de modo que
a fúria da multidão se transforma em piedade.)

A MULTIDÃO
(Mulheres)
Que jovenzinho! Graça, graça!
(Homens)
Como é firme o seu passo!
(Mulheres)
Graça!
(Homens)
Como é meigo, como é meigo o seu rosto!
...Tem nos olhos a nobreza! Piedade!
(Mulheres)
Como é firme o seu passo!
(Homens e mulheres)
Tem nos olhos a alegria!
Piedade! Piedade!

CALAF
Ah! A graça!

MULHERES
Piedade dele!

HOMENS
Princesa!

MULHERES
Piedade!...dele!

HOMENS E MULHERES
Piedade!

HOMENS
Princesa! Graça! Graça!
Piedade dele! Piedade!

A MULTIDÃO
Piedade! Piedade!

CALAF
Que eu te veja
E que eu te maldiga!
Cruel, que eu te maldiga!

A MULTIDÃO
Princesa!

HOMENS
Piedade dele!
A MULTIDÃO
Princesa!

HOMENS
Princesa, piedade!

A MULTIDÃO
Princesa!

HOMENS
Piedade dele! Piedade dele!

A MULTIDÃO
Piedade! Piedade! etc.
A graça, Princesa! etc.
Princesa! A graça! A graça!

(Turandot aparece na galeria imperial; a multidão cai
prostrada. Apenas ficam de pé o Príncipe da Pérsia, o
carrasco e Calaf.)

CALAF
(deslumbrado pela sua beleza)
Ó divina beleza! Ó maravilha!
Ó sonho! etc.

(Turandot faz um gesto imperioso; é a sentença de morte.
O Príncipe da Pérsia, o carrasco e o cortejo acompanhante
se movem. Turandot se retira.)

SACERDOTES
(vestidos de branco no cortejo)
Ó grande Koung-Tzé!
Que o espírito do morrente
Chegue até ti!

(Suas vozes lentamente se perdem na distância. Timur, Liù
e Calaf ficam sós.)

TIMUR
Filho, que faz?

CALAF
Não percebes? O seu perfume está
No ar! Está na alma!

TIMUR
Te perdes!

CALAF
Ó divina beleza, Ó maravilha!
Eu sofro, pai, sofro!

TIMUR
Não, não! Chega-te a mim.
Liù, fala-lhe tu!
Aqui salvação não tem!
Tome na sua mão a mão dela!

LIÙ
(a Calaf)
Senhor, vamos para longe!

TIMUR
A vida está distante!

CALAF
Eu sofro, pai, sofro!

TIMUR
A vida está distante!

CALAF
Eu sofro, pai, sofro!

TIMUR
Aqui salvação não tem!

CALAF
A vida, pai, está aqui!
(correndo para o gongo)
Turandot! Turandot! Turandot!

VOZ DO PRÍNCIPE DA PÉRSIA
Turandot!

A MULTIDÃO
Ah!

TIMUR
(Insistindo com o filho)
Quer morrer assim?

CALAF
Vencer, pai, pela sua beleza!

TIMUR
Quer acabar assim?

CALAF
Vencer gloriosamente
Pela sua beleza!

(Novamente corre para o gongo. Ping, Pong e Pang, os
ministros do imperador, aparecem subtamente e lhe barram
o caminho.)

PING, PONG, PANG
Pare! Que faz! Detém-te!
Quem és, que faz,
Que quer? Vá embora!
Vá, a porta é esta
Do grande açougue!
Louco, vai embora!

PING
Aqui se enforca!

PONG E PANG
Se fura!

PING
Se degola!

PONG E PANG
Se péla!

PING
Se engancha e esquarteja!

PONG E PANG
Vá embora!

PING
Se serra e se destripa!

PONG E PANG
Vá embora!

PING
Solicito, precipitas...

PONG E PANG
Vá embora!

PING,  PONG E PANG
...ao teu país volta...

PING
...à procura de uma extirpe...

PONG E PANG
Que quer, quem és?

PING
...para romper-te os chifres!

PONG E PANG
Vai embora! Vai embora!

PING, PONG E PANG
Mas aqui não!
Louco, vai embora, vai embora!

CALAF
Deixem-me passar!

PONG
Aqui todos os cemitérios estão ocupados!

PANG
Aqui bastam os loucos nativos!

PING
Não queremos mais loucos forasteiros!

PONG E PANG
Ou o laço, ou o enterro
Para ti se prepara!

CALAF
Deixem-me passar!

PONG E PANG
Por uma princesa!

PONG
Puxa!

PANG
Puxa!

PONG
Que coisa é?

PANG
Uma mulher com corôa na cabeça...

PONG
...e o manto com galões!

PING
Mas se a desnuda...

PONG
É carne!

PANG
É carne crua!

PING
É coisa...

PING, PONG, PANG
...que não se come!

CALAF
Deixem-me passar...

PING, PONG, PANG
Ah, ah, ah! Ah, ah, ah!

CALAF
...deixem-me!

PING
Deixe a mulher!
Ou tome cem esposas,
Que, no fundo, a mais sublime
Turandot do mundo
Tem uma face, dois braços,
E duas pernas, sim, bela, imperial,
Sim, sim, bela, sim, mas sempre ela!
Com cem esposas, Ó tolo,
Terás pernas em abundância,
Duzentos braços,
E cem meigos peitos.

PONG E PANG
Cem peitos...

PING
...Espalhados por cem leitos...

PING, PONG, PANG
Ah, ah, ah! Ah, ah, ah!

CALAF
Deixem-me passar!

PING, PANG, PONG
Louco, vá embora, vá embora!
(Um grupo de moças aparece na galeria imperial)

DAMAS DE TURANDOT
Silêncio, olá! Aí quem fala?

PRIMEIRA DAMA
Silêncio!

SEGUNDA DAMA
Silêncio!

AMBAS
É hora suavíssima do...
... sono.

OUTRAS DAMAS
Silêncio, silêncio, silêncio!

PRIMEIRA DAMA
O sono...
chega...

OUTRAS DAMAS
O sono chega...

SEGUNDA DAMA
Fecha os olhos...

OUTRAS DAMAS
De Turandot.

PRIMEIRA E SEGUNDA DAMAS
Se perfuma dela a escuridão!

OUTRAS DAMAS
Se perfuma dela a escuridão!

PING
Saiam daí, mulheres tagarelas!

PANG
Saiam daí!

PONG
Saiam daí!

PING
Saiam daí!
(As damas se retiram)

PING, PONG, PANG
Atenção ao gongo! Atenção ao gongo!

CALAF
Se perfuma dela a escuridão!

PANG
Olhe-o Pong!

PONG
Olhe-o Ping!

PING
Olhe-o Pang!

PANG
Está surdo!

PONG
Aturdido!

PING
Alucinado!

TIMUR
Não os escuta, pobre de mim!

PING, PONG, PANG
Vamos! Falemos-lhe os três!

PANG
Noite sem luz...

PONG
...Garganta negra de um caminho...

PING
...São mais claras que os enigmas de Turandot.

PANG
Ferro, bronze, muro, rocha...

PONG
...A obstinada tua cabeça...

PING
...São menos duros que os enigmas de Turandot.

PANG
Então vá, saúda a todos!

PONG
Atravessa os montes, corta as ondas!

PING
Fique longe ds enigmas de Turandot.
Ha, ha!

PANG
He, he!

PONG
Ha, ha!

PING, PONG, PANG
Ha, ha!

(Os fantasmas de antigos pretendentes, que morreram por
amor a Turandot, aparecem nas muralhas.)

FANTASMAS
Não demores!
Se chamas, aparece aquela
Que os extintos
Faz sonhar.
Faça que ela fale!
Faça que a ouçamos!
Eu te amo! Eu te amo! Eu te amo!

CALAF
Não, não, eu só a amo!

PING, PONG, PANG
A amas? Que coisa? Quem?
Turandot? Ah, ah, ah!
Turandot! Ah, ah!

PONG
Ó moço demente!

PANG
Turandot não existe!

PING
Não existe senão o nada
No qual te anulas!

PONG, PANG
Turandot não existe, não existe...

PING
Turandot! Como todos
Aqueles imbecis, teus iguais!
O homem! O Deus! Eu! O povo!
...Os soberanos! ...Pu-Tin-Pao!...

PANG
Tu te anulas como aqueles imbecis...

PONG
Como todos...

PING
Pu-Tin-Pao! Não existe senão o Tao!

PANG
...Como aqueles imbecis teus iguais
Tu te anulas!

PONG
...Como aqueles imbecis teus iguais, não Existe...
...Senão o Tao!

CALAF
A mim o triunfo!
A mim o amor!
(Surge o carrasco, carregando a cabeça decepada do
Príncipe da Pérsia)

PING, PONG, PANG
Tolo, eis o amor!
Assim a lua beijará o teu rosto!

TIMUR
Ó filho, quer então que eu só
Que eu só arraste pelo mundo
A minha torturada velhice?
Socorro! Não há voz humana
Que mova o teu coração feroz?

LIÙ
Senhor, escute!
Ah, senhor, escute!
Liù não suporta mais,
O seu coração se despedaça!
Pobre de mim, pobre de mim, quanto
Caminhar
Com o teu nome na alma,
Com o teu nome sobre os lábios!
Mas se o teu destino,
Amanhã estiver decidido,
Nós morreremos sobre a estrada do exílio.
Ele perderá seu filho ...
Eu a sombra de um sorriso.
Liù não suporta mais!
Ah, piedade!

CALAF
Não chores, Liù!
Se em um distante dia
Eu te sorri,
Por aquele sorriso,
Minha meiga jovem,
Me ouça: o teu senhor
Estará amanhã, talvez, só no mundo...
Não o deixes,
Leva-o contigo!

LIÙ
Nós morreremos sobre a estrada do
Exílio!

TIMUR
Nós morreremos!

CALAF
Do exílio amenizai
A ele a estrada!
Isto... isto, Ó minha pobre Liù,
Ao teu pequeno coração que não cai
Pede aquele que não sorri mais...
Que não sorri mais.

TIMUR
Ah! Pela última vez!...

LIÙ
Vence o fascínio horrível!

PING, PONG, PANG
A vida é tão bela!

TIMUR
...Tenha piedade de mim!

LIÙ
Tenha piedade de Liù!

PING, PONG, PANG
A vida é tão bela!

TIMUR
Tenha de mim, de...
Piedade, piedade!

LIÙ
Senhor, piedade!
Tenha piedade de Liù!

PING, PONG, PANG
Não te percas assim!

CALAF
Sou eu que peço piedade!
Ninguém mais escuto...

LIÙ
Senhor, piedade!
Piedade de Liù!

TIMUR
Não posso separar-me de ti!

PING
Agarre-o...

PING, PONG, PANG
Levem-no embora!

CALAF
...Ninguém mais escuto!

PING
Detenham aquele louco furioso...
Levem-no embora!

PONG, PANG
Vamos, tirem daqui este louco!

LIÙ
Piedade!

CALAF
Eu vejo o seu rosto fulgidio!
Eu a vejo!

TIMUR
Não posso separar-me de ti!
Piedade!

PING, PONG, PANG
Vamos, tirem daqui este louco!

CALAF
Me chama! Ela está lá!

TIMUR
Piedade! Me jogo aos teus pés gemendo!

PING, PONG, PANG
Vamos, tirem daqui este louco!

LIÙ
Piedade!

CALAF
O teu perdão pede aquele...

LIÙ
Senhor, piedade, piedade!

TIMUR
Tenha piedade! Tenha piedade!

PING, PONG, PANG
Louco tu és! Louco tu és!

CALAF
...que não sorri mais!

LIÙ
Piedade, senhor!

TIMUR
Não queira a minha morte!

PING, PONG, PANG
A vida é bela!

PING
Vamos, um último esforço,
Levemo-lo embora!

PING, PONG, PANG
Levemo-lo embora! Levemo-lo embora!

CALAF
Deixem-me...
...Muito tenho sofrido!

TIMUR
Tu passas sobre um pobre coração...

PING, PONG, PANG
O rosto que vês é ilusão!

CALAF
Lá a glória me espera!

TIMUR
...que sangra em vão por ti!

PING, PONG, PANG
A luz que resplandece é funesta!

CALAF
Não há força humana que me detenha!

LIÙ
Piedade!

TIMUR
Ninguém jamais venceu, ninguém!

PING
Tu jogas a tua perdição!

PONG, PANG

É ilusão funesta!

CALAF
Eu sigo a minha sorte!

LIÙ
Piedade de nós!

TIMUR
Sobre todos a espada caiu!

PING, PONG, PANG
Tu jogas a cabeça!

CALAF
Sou todo uma febre, sou todo um delírio!

LIÙ
Se esta tortura não basta, senhor...

PING, PONG, PANG
A morte é a sombra do carrasco...

A MULTIDÃO
A fossa já cavam para ti...

CALAF
Cada juízo é um martírio feroz!

LIÙ
...nós estamos perdidos! Contigo!

PING, PONG, PANG
...é a sombra do carrasco

A MULTIDÃO
...que quer desafiar o amor!

LIÙ
Ah! Fujamos...

TIMUR
Me jogo aos teus pés!

PING, PONG, PANG
Tu corres...

A MULTIDÃO
Na escuridão...

CALAF
Cada fibra da alma tem uma voz que grita:...

LIÙ
...Senhor, ah, fujamos!

TIMUR
Não queira a minha morte!

PING, PONG, PANG
...para a ruína! Não jogues a vida!

A MULTIDÃO
...está marcado, pobre de mim, o teu destino!

CALAF
...Turandot!

LIÙ, TIMUR, PING, PONG, PANG
A morte!

A MULTIDÃO
Ah!

CALAF
Turandot!

LIÙ, TIMUR, PING, PONG, PANG
A morte!

A MULTIDÃO
Ah!

CALAF
Turandot!

LIÙ, TIMUR, PING, PONG, PANG
A morte!

A MULTIDÃO
Ah!

(Calaf martela o gongo três vezes)

PING, PONG, PANG
E deixemo-lo ir! Inútil é gritar...

A MULTIDÃO
A fossa já cavam para ti...

PING, PONG, PANG
...em sanscrito, em chinêz, em língua mongólica!
Quando percute o gongo a morte alegra-se!

A MULTIDÃO
...que quer desafiar o amor!

PING, PONG, PANG
Ah, ah, ah, ah!

Fim do Primeiro Ato

Ato I | Ato II | Ato III


contributed by Bruno Buzzacchi; translation believed to be in public domain


[ Opera Information Page | Composer Page | OperaGlass Main Page ]

Monday, 08-Dec-2003 21:36:33 PST